Arquivo: Janeiro 2007

a demon in my view

Alone

From childhood’s hour I have not been
As others were – I have not seen
As others saw – I could not bring
My passions from a common spring.
From the same source I have not taken
My sorrow; I could not awaken
My heart to joy at the same tone;
And all I lov’d, I lov’d alone.
Then – in my childhood – in the dawn
Of a most stormy life – was drawn
From ev’ry depth of good and ill
The mystery which binds me still:
From the torrent, or the fountain,
From the red cliff of the mountain,
From the sun that ’round me roll’d
In its autumn tint of gold -
From the lightning in the sky
As it pass’d me flying by -
From the thunder and the storm,
And the cloud that took the form
(When the rest of Heaven was blue)
Of a demon in my view.

Edgar Allan Poe

déjame que te hable también con tu silencio

Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.

Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía.

Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
Déjame que me calle con el silencio tuyo.

Déjame que te hable también con tu silencio
claro como una lámpara, simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.

Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.

Pablo Neruda

reler Anaïs

“Acredito verdadeiramente que se não fosse uma escritora, nem
criadora, nem experimentadora, teria sido uma esposa muito fiel. Tenho
em alta conta a fidelidade. Mas o meu temperamento pertence à
escritora, não à mulher.”

“Tenho o sentido de tudo o que deixo de fora – as lacunas,
especialmente os sonhos, as alucinações. Também as mentiras são
deixadas de fora, uma desesperada necessidade de embelezar. Por isso
não escrevo. O diário é por isso uma mentira. O que fica fora do diário
fica também fora da minha cabeça. No momento de escrever precipito-me
para a beleza.”

não tenhas pena

24351sherman6-copy.jpg

Cindy Sherman

esquece-me. quero andar
ao sabor do meu instinto
cultivado na desgraça.

o amor,
- deixa um travo, mas passa.

não tenhas pena.

do alto do meu aprumo
desafio a tua verve:

- para morrer,
qualquer lugar,
qualquer corpo,
e qualquer boca me serve.

António Botto

verso de autografia | mário cesariny

miguel gonçalves mendes o mário tem medo da morte?

mário cesariny sou capaz de ter, um bocadinho. não sei o que é. (ri) mas gostava de ter daquelas mortes boas… a gente deita-se para dormir e nunca mais acorda, isso é que é bom.
mas tenho medo sobretudo da degradação física, isso sim! porque eu já sofro um bocadinho, vá lá, isso é que é muito chato, isso já é a morte a trabalhar, a trabalhar.
a morte propriamente não existe. se morreu, morreu… é o momento! tens medo da morte tu?

há o perigo de um grito lindíssimo

poema

Reconheço este quarto impermeável
reconheço-te estás adormecido
o peito muito aberto as mãos luminosas
o grande talento dos teus dentes miúdos

Há o perigo de um grito lindíssimo
quando andas assim comigo no invisível

Quando a manhã vier sairás comigo
para o espaço que nos falta para o amor
que nos falta

A aurora
está fatigada

a aurora
como um rio nosso
em torno dos elevadores

Tinha eu a idade
de um marselhês
silencioso
e tímido

Tu davas-me a lousa dos magos
o teu riso as letras
mais obscuras do alfabeto

Foi há muito tempo
ou agora
na caverna dos leões expressivos

A caverna que dá para a caverna
a caverna os lagos diligentes

Belo tu és belo
como um grande espaço cirúrgico

Porque tu não tens nome existes

A minha boca
sabe à tua boca

A minha boca
perdeu a memória
não pode falar as palavras
entram no seu túnel
e não é preciso segui-las

Disse que és alto
alto
branco e despovoado

Mário Cesariny

Pourquoi pas toi ?

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“Pourquoi pas toi dans cette ville et dans cette nuit pareille aux autres au point de s’y méprendre?”

como uma traição, o tejo no final da avenida.

a noite entra-me pela casa, as esquinas
de lisboa moldadas nos meus dedos.

as mulheres neste quarto a meia luz.

este precipicío para lá dos teus olhos.