fragmentos do diário XII – breves de 2003

Que a sede de poesia se transforme em água e eu possa inventar novas cidades. 7 Fevereiro

Estou no limite de mim. 8 Fevereiro

Este amor como uma cidade em que todas as luzes estão acesas. É necessário apagá-las e encontrar-me só na escuridão. 10 Fevereiro

Relembro Anaïs Nin. 11 Fevereiro

Escrever nunca foi uma escolha. As palavras surgiram, desde cedo, como a marca de um destino. Mais real que a sombra que se precipita do meu corpo num dia de sol. 10 Março

Não há, nem pode haver, qualquer escolha que me faça deixar a escrita. Não vale a pena passar pela vida sem poesia. 12 Março

O hábito pode ser um vício tão grande como o amor. 17 Março

Este não ser capaz. 19 Março

Certo é que se o caminho a seguir fosse simples, não o seguiria. 24 Março

É certo que os anos mais vividos não são os actuais. 21 Abril

Porque desejo tanto a imortalidade se pouco me preocupo quando a vida não é aquilo que quis? 3 Junho

Anaïs dentro de mim, fora de mim. Desencontrada. Este coma perpétudo. 3 Junho

E tudo o que sinto, senti-o já antes. Repetidamente, a minha escrita é eco de escritas passadas. 9 Julho

Tropeço em mim. 10 Julho

Não sei se sou ainda a adolescente que fui ou se procuro ser a adolescente que fui. 10 Julho

O meu corpo precipita-se para fora de mim e lembro-me de ter 16 anos. 12 Julho

Que precipício para lá dos teus olhos? 21 Julho

Falho-me. Falto-me. 22 Julho

E amanhã acordarei tarde – sair de casa, descer a avenida até ao Rossio, até ao Tejo, os meus olhos pousados sobre o cais.
Dir-te-ei as palavras? 27 Julho

Quatro meses de silêncio.
Dentro de mim existem mil palavras e poemas inteiros.
Se queres escrever, porque não queres escrever? 26 Dezembro

Não me permito escrever um poema “assim-assim”. Sempre odiei as “demi-teinte”, o razoável, as metades. 27 Dezembro

2 thoughts on “fragmentos do diário XII – breves de 2003

  1. s

    “Este amor como uma cidade em que todas as luzes estão acesas. É necessário apagá-las e encontrar-me só na escuridão.” 10 Fevereiro

    um amor que roubou a solidão. demasiado para a humanidade dos amantes.

    *

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

*

You may use these HTML tags and attributes: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <strike> <strong>