A beleza
Sempre foi
Um motivo secundário
No corpo que nós amamos;
A beleza não existe,
E quando existe não dura.
A beleza
Não é mais que o desejo
Fremente
Que nos sacode…
- O resto, é literatura.
António Botto
A beleza
Sempre foi
Um motivo secundário
No corpo que nós amamos;
A beleza não existe,
E quando existe não dura.
A beleza
Não é mais que o desejo
Fremente
Que nos sacode…
- O resto, é literatura.
António Botto
Fotografia de Helena Almeida
julho arrefeceu os lençóis
madrugadas de papel forraram paredes
choro quando caminho por lisboa antiga
a grande avenida no início da noite
águas subterrâneas conduzem-me para o cais
hei-de esvaziar o tejo e enchê-lo novamente
pedir-te que escrevas um poema e o leias ao contrário
fazer acrobacias contigo na torre do castelo
adormecer esta noite numa rua de meninas
e acordar com as mãos cobertas de azul.
1999
I’m in the mood for love
Simply because you’re near me.
Funny, but when you’re near me
I’m in the mood for love.
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio…
(…)
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui…
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas – doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…
Álvaro de Campos | Aniversário