Arquivo: 2010

o teu rosto transformou-se na noite interminável
que atravessa cada tarde, cada tarde, cada tarde
interminável.

o rio de fumo que levava o teu nome para as
estrelas dentro de dentro de dentro
da minha tristeza.

e o teu rosto era tudo o que tinha. e o teu nome era
tudo o que tinha. tu eras tudo. tudo. e tudo é agora
mais do que tudo.

José Luís Peixoto

E digo-te não vás. Fica. Para sempre. Há em mim uma luta entre o desejo de que te esqueça e o de endoidecer contigo.

Vergílio Ferreira | Cartas a Sandra

Então está tudo dito, meu amor
Por favor não penses mais em mim
O que é eterno acabou connosco
E este é o princípio do fim

Mas sempre que te vir
Eu vou sofrer
E sempre que te ouvir
Eu vou calar
Cada vez que chegares
Eu vou fugir
Mas mesmo assim amor
Eu vou-te amar
Até ao fim do fim
Eu vou-te amar

Então está dito, meu amor
Acaba aqui o que não tinha fim
Para ser eterno tudo o que pensámos
Precisava que pensasses mais em mim

Para ti pensar a dois é uma prisão
Para mim é a única forma de voar
Precisas de agradar a muita gente
Eu por mim só a ti queria agradar

Mas sempre que te vir
Eu vou sofrer
E sempre que te ouvir
Eu vou calar
Cada vez que chegares
Eu vou fugir
Mas mesmo assim amor
Eu vou-te amar
Até ao fim do fim
Eu vou-te amar

letra de Tozé Brito, interpretado por Ana Moura

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L’avventura | michelangelo antonioni

Sinto-me tão a mais. Não sentes como me sinto? Quase a enlouquecer. Cheio de medo de amar, tanto medo, mete tanto medo o amor. E depois, imagina tu, o que pode acontecer. Não acontecer nada. É demasiado perigoso, imprevisível, impossível de controlar, deve ser morto logo que apareça, como uma criança antes de o ser. A vida é sempre a mesma e diferente. A náusea, sabes o que é? Se quiseres podes ir ao dicionário. Mas não vais saber. Já te disse, não vale a pena dizer outra vez. Amo-te muito. Não te quero ver. Para fazer o quê? Não me lixes, merda. Acaba com isto que eu não aguento mais. Abraça-me e cala-me com a tua boca sobre a minha. Já, que eu não aguento mais.

Pedro Paixão | Muito, Meu Amor

Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?
Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.
Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.

Eugénio de Andrade

Chovia e vi-te entrar no mar
longe de aqui há muito já
ó meu amor o teu olhar
o meu olhar o teu amor
Mais tarde olhei-te e nem te conhecia
Agora aqui relembro e pergunto:
Qual é a realidade de tudo isto?
Afinal onde é que as coisas continuam
e como continuam se é que continuam?
Apenas deixarei atrás de mim tubos de comprimidos
a casa povoada o nome no registo
uma menção no livro das primeiras letras?
Chovia e vi-te entrar no mar
ó meu amor o teu olhar
o meu olhar e o teu amor
Que importa que algures continues?
Tudo morreu: tu esse tempo esse lugar
Que posso eu fazer por tudo isso agora?
Talvez dizer apenas
chovia e vi-te entrar no mar
E aceitar a irremediável morte para tudo e todos.

Ruy Belo

Set me free, leave me be
I don’t wanna fall another moment into your gravity
Here I am and I stand so tall
I’m just the way I’m supposed to be
But you’re on to me and all over me.

Sara Bareilles | Gravity