Desci a avenida, até ao Tejo, e chorei. 17 Janeiro
Ainda amo “R”. São três da manha e neste momento amo “R”. Para amanhã amar talvez menos e ela amar talvez mais. 11 Fevereiro
Tenho quem quero e quem não quero. Isto farta. E dou por mim só. Sabendo que podia ter alguém, que há mesmo alguém que sofre por mim. Mas nada me completa. 20 Fevereiro
Somos nós que andamos roubados na algibeira do passado. 4 Março
“Isto nunca vai acabar, pois não?” – diz-me “R” 5 Março
Véspera da viagem para Paris. “R” aparece aqui de madrugada com um profundo corte no pulso esquerdo. 31 Março
Paris deslumbra. 1 Abril
É como um grande truque de magia, podes até tocar-lhe, sem no entanto teres ainda a capacidade para o perceber.
Paris sente-se. Explode dentro de ti e ultrapassa-te. 7 Abril
Sou atraída para o sexo bruto, para o prazer imediato e depois fico desiludida com a falta de sensibilidade. 23 Maio
“A” está no hospital. Se atirar um objecto contra a parede e ele se partir, acordarei, e tudo estará bem, como antes. 23 Setembro
“S” apareceu no momento exacto da minha queda. Deixei que ela me amasse, e permiti-me amá-la. 30 Setembro
Deixei de saber escrever poemas que não sejam para “R” 20 Outubro
Mesmo tendo a certeza que “S” não é a meia-lua, sinto que corro o risco de ficar com ela durante muito tempo. 20 Outubro
“S” ama-me como um dia amei “R”. O amor devasta. O mais que posso dar-lhe é pouco. 25 Outubro
Amar será ainda viver? 26 de Outubro
Amo “S” com um amor tão calmo que às vezes duvido se será amor. 5 Dezembro
Congelei a matrícula este ano. Todo um castelo que durante anos construí e agora, conscientemente destruo. 5 Dezembro
Preciso dos livros, preciso de mim. 11 Dezembro
Volto a sonhar com Tirana e acordo a chorar. 11 Dezembro
Já não há o desejo de sair à rua, de dançar até de manhã, de fazer amor com mulheres diferentes todos os dias. Há antes uma necessidade de uma cadeira e uma mesa, onde possa sentar-me e longamente escrever, numa solidão e silêncio absolutos. 13 Dezembro
Tudo se resume a isto: escrever. Nada sou, nem nada quero ser, se a escrita me falha. 15 Dezembro
Desde sábado que não vejo a luz do dia. Como condenada ao sono. 16 Dezembro
Depois de quase 30 horas seguidas a dormir, aceitei finalmente ir a um psiquiatra. 21 Dezembro
Sentei-me num sofá, melhor – enterrei-me num sofá. Fui obrigada a responder a perguntas sobre a minha vida. Saí de lá com uma depressão diagnosticada. 26 Dezembro