Quem está aí, além desta horrível tempestade?
Shakespeare | Rei Lear
Quem está aí, além desta horrível tempestade?
Shakespeare | Rei Lear
some people never go crazy. what truly horrible lives they must lead.
charles bukowski
agosto irrompe dos dedos.
é o tempo de todas as mortes.
fumo um cigarro, sem saber se será o último cigarro. se houver um amanhã estarei lá, de pé, fumando o último cigarro.
al berto | diários
estou no velório de todos. há panos brancos sobre os rostos e as ruas estão desertas. esta cidade é um engano. é isto. cheguei a lisboa em ruínas.
a morte é uma sombra de mulher com pesados brincos de diamante a insinuar-se nas cortinas.
desconheço os círculos que se desenham no chão e as linhas de água em redor dos meus pés.
o horror desta noite interminável e das lâminas que me atravessam. a manhã é um país longínquo onde chegarei só.
há dois dias que escrevo incessantemente. poderei não existir dentro de algumas horas, há um pressentimento de fim e de urgência.
todos os fantasmas andam à solta nesta cidade.
Um poema
inteiro
sobre os teus
lábios.
Promete-me que no fim terei existido.
Vasco Gato
saio do trabalho e apresso-me à livraria mais próxima para comprar os teus diários.
abro uma página ao acaso – Amanhã, ou enquanto dormes, agora mesmo, vou pensar em ti intensamente – até que as horas me doam e o movimento do tempo fique suspenso, até que tudo o que me rodeia tome a forma do teu corpo.
faço o caminho de volta num esforço imenso para conter o choro. as tuas palavras outra vez, pela primeira vez.
quero ficar imediatamente doente para nada fazer senão ler-te.
lembro-me que notícia da tua morte me chegou por telefone e que chorei a noite inteira.