há dois dias que escrevo incessantemente. poderei não existir dentro de algumas horas, há um pressentimento de fim e de urgência.
todos os fantasmas andam à solta nesta cidade.
há dois dias que escrevo incessantemente. poderei não existir dentro de algumas horas, há um pressentimento de fim e de urgência.
todos os fantasmas andam à solta nesta cidade.
Um poema
inteiro
sobre os teus
lábios.
Promete-me que no fim terei existido.
Vasco Gato
saio do trabalho e apresso-me à livraria mais próxima para comprar os teus diários.
abro uma página ao acaso – Amanhã, ou enquanto dormes, agora mesmo, vou pensar em ti intensamente – até que as horas me doam e o movimento do tempo fique suspenso, até que tudo o que me rodeia tome a forma do teu corpo.
faço o caminho de volta num esforço imenso para conter o choro. as tuas palavras outra vez, pela primeira vez.
quero ficar imediatamente doente para nada fazer senão ler-te.
lembro-me que notícia da tua morte me chegou por telefone e que chorei a noite inteira.
como havia eu de imaginar que tu eras feito à medida do meu próprio corpo?
marguerite duras
sair da ordem. cair na doçura do acaso. trocar de caos.
miguel esteves cardoso