fragmentos do diário XX – breves de 2011

O ano passou e passou o primeiro dia do ano novo.
É verdade que já não espero muito. Só a literatura me teria salvo. 1 de Janeiro

Penso na morte ininterruptamente. Não quero estar aqui. Já não.
Estou cansada de sentir. Não aguento esta dor.
Ela disse que viria e não veio. 2 de Janeiro

Aterroriza-me esta fragilidade. 4 de Janeiro

Meu amor este amor é uma doença que se alastra. 7 de Janeiro

Onde está o meu limite? Porque me castigo ficando neste amor? 11 de Janeiro

Esta viagem era nossa. Sentada no avião rumo a Paris. A solidão é absoluta. E é preciso seguir em frente e não estou certa de querer seguir em frente. 14 Janeiro

A devolução da escrita. A escrita contra a loucura. 22 de Janeiro

É preciso aceitar a total destruição para te amar. 23 de Janeiro

Jamais alguém perceberá este amor. Nem porque é que os meus dias são tão vazios quando não estás.
A falta de forças que sinto diante de ti não é digna de ser vista. 24 de Janeiro

E se não me queres, porque insistes no meu nome? 25 de Janeiro

E foi sempre assim em cada regresso. Eu a acreditar, tu a não conseguires, nós a afastarmo-nos. 28 de Janeiro

Preciso fugir de ti. 1 de Fevereiro

Escrever contra a loucura. Escrever contra ti. Escrever contra o amor. Contra a tristeza, contra a passagem das horas, contra as saudades, contra a vontade, contra a memória, contra a imagem do teu corpo, os teus olhos, a tua boca, as tuas mãos.
É tarde agora. É demasiado tarde. Tarde para te amar. Tarde para deixar de te amar. 2 de Fevereiro

O mais desesperante já não é a tua ausência. É saber que irás continuar a reaparecer. 3 de Fevereiro

Respirar fundo e aceitar o silêncio. É preciso aceitar o silêncio.
Bater em qualquer coisa até que os punhos se abram. Até que a dor seja exterior também. 4 de Fevereiro

Arrumo a casa, lavo a loiça, faço o jantar, ponho a máquina a lavar.
É preciso continuar. É preciso continuar. 5 de Fevereiro

Morrer. Morrer. Morrer. 6 de Fevereiro

Um nó na garganta de tal forma que provoca dor. Mas não choro. 18 de Fevereiro

E a se a loucura desaparecer dos seus olhos amá-la-ei ainda? 23 de Fevereiro

Se deus existe, peço-lhe um milagre. 24 de Fevereiro

As palavras “eu mato-te” ecoam, não consigo parar de as ouvir.
É um caminho sem retorno. E não sei o que é andar em frente sem olhar para trás. 3 de Março

É por baixo da pele, muito longe de mim o que me dói. É por baixo da pele, muito longe de mim que estou. 4 de Março

O que significa nunca mais? 5 de Março

Duas e vinte da manhã e eu amo-te. Duas e trinta da manhã e eu amo-te. 11 de Março

Tão cansada deste amor. 16 de Março

Quatro dias para me relembrar como é perfeito quando estamos bem. Esta certeza irrefutável do amor. E o que fazer com esta certeza?
Disse-lhe “esvaziaram-me por dentro e só ficaste tu”. 22 de Março

Às vezes tenho vergonha de amá-la. 27 de Março

O teu corpo já não é um segredo que encerro.
À força de tanto te dares gratuitamente o teu corpo gastou-se noutras mãos.
e as tuas mãos no meu corpo já não são uma descoberta do teu prazer. São sons repetidos em vozes diferentes cada noite. 28 de Março

Em que parte do caminho te esqueceste de mim? Em que parte do caminho deixámos de ser únicas uma para a outra?
Já nada é possível e permanecemos ainda, presas à perfeição de um amor que julgámos eterno. 29 de Março

Respiro o vazio. Respiro este amor que me esvaziou. 1 de Abril

O amor existe apesar de. 2 de Abril

Quando ela não está o mundo inteiro é ausência. Quando ela está o mundo inteiro é ausência. 5 de Abril

De nada me vale um amor que abandona. 7 de Abril

Valha-me o mundo para assegurar-me que não estou louca. 11 de Abril

Estava como queria estar. No início do precipício. Viva. Com ela. Louca de desejo. 17 de Abril

Este amor devolve-me. Mesmo quando repleto de dor. 19 de Abril

O que estou eu a permitir? 29 de Maio

Atiro uma garrafa contra o chão e os vidros espalham-se por toda a sala, ao redor dos meus pés. Leva-me ao limite. 30 de Abril

Há momentos em que penso que se é para ser assim, deixem-me ser triste de uma vez. 31 de Maio

Falho-me. 28 de Junho

Que amor é este? 22 de Agosto

“tudo o que disseres poderá ser e será usado contra ti” 29 de Agosto

Não sinto nada. Não me comovo. 5 de Setembro

Tenho de lembrar-me disto: estar com ela faz-me mal. Quando as saudades vierem tenho de lembrar-me destas noites em que me deixa só. Este vazio. Esta tristeza. Esta certeza. 10 de Setembro

O tempo estende-se. Esqueço-me de tudo. Não penso, deixo que as horas passem muito lentamente. 13 de Setembro

Estou mentalmente exausta. De tal forma que até fisicamente me sinto exausta. 17 de Setembro

A raiva que preenche tudo, que se alastra pelas ruas, a sensação de nojo no corpo, os olhos verdes presos a mim, o delírio, a violência, o amor que se cola contra a minha vontade. 3 de Outubro

A noite é um lugar de perigo para os que amam. 7 de Outubro

Meu deus, que pesadelo. 8 de Outubro

Foi arrancada parte de mim. Levanto-me e continuo. Mas não estou inteira. 10 de Outubro

Neste momento, sei tão pouco de mim. 14 de Outubro

É mais forte que eu. Como é que é mais forte que eu? 17 de Outubro

Morro por notícias dela. Morro dela. Dos olhos dela. Mas continuo. 19 de Outubro

Não sei se estou preparada para o que a terapia pode fazer de mim. Não sei o que é uma versão mais equilibrada de mim. 27 de Outubro

Sou tão apaixonada por ela hoje como há um ano. Ou muito mais. 27 de Outubro

Rezo para que não me diga nada, para que não apareça e ao mesmo tempo tudo o que quero é que apareça. 3 de Novembro

Ganharei eu lucidez para deixar de a querer? E quem eu sou, não se perderá também? 6 de Novembro

Construo defesas por dentro de mim. É como se mil estradas dentro de mim existissem. Faço meio caminho, encontro-a, construo um muro, sigo por outra estrada. 8 de Novembro

Todos os seus movimentos me ferem. Os que faz, os que a memória me traz, os que imagino. 15 de Novembro

À espera dela. A tremer. 28 de Novembro

Olhamos uma para a outra e dizemos ao mesmo tempo “amo-te”. 29 de Novembro

O que me salva deste amor quando só este amor me salva? 2 de Dezembro

Existirá alguma felicidade que dure mais que minutos? Ou será que tudo tem de estar sempre repleto de dor?
Este amor é uma armadilha. Uma vertigem, uma queda livre constante. 7 de Dezembro

Não há nada de novo aqui. Estar com ela é uma repetição. Já não é inteiro estar com ela. 9 de Dezembro

Vinham ter comigo. Puxavam-me para dançar. Tantos corpos ao meu redor. Sentia-me eu, sem precisar de ninguém. 10 de Dezembro

Que venham outros corpos. Sinto uma sexualidade excessiva em mim. 13 de Dezembro

Quero fugir do mundo real e viver só de histórias. 14 de Dezembro

Parar e olhar um rosto. Ter a noção do outro. E perceber que esse outro não é ela. 21 de Dezembro

Mensagem dela: “Em tua casa. Meia hora”. 27 de Dezembro

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