fragmentos do diário XVI – breves de 2007

Quando vi a ambulância junto a casa, corri. Como se tudo dependesse de quão rápido conseguia correr.
170 comprimidos. Fizemos as contas. Sem acreditar em Deus senti, pela primeira vez, que Deus me abandonara. 6 Março

Tenho um cansaço de 50 anos. 6 Março

Este sono que se alastra por dentro de mim. 9 Março

Não sei se consigo ainda viver sozinha. É aterrador. 9 Março

Quero que ela seja o mais feliz possível. Não há raiva, nem arrependimentos, apenas tristeza.
Entre o nada e a dor, escolho a dor. 10 Março

Com os anos, foi desaparecendo da memória a magia que existe quando o desejo é quase insuportável e acontece o beijo. 1 Junho

Tornei-me mais feminina no amor. Permito que as emoções vivam à flor da pele. Sou mais vulnerável. 1 Junho

Há dias, como hoje, em que desejo voltar atrás no tempo. Um tempo sem tanto peso para carregar. Ter tempo para a tristeza. 14 Junho

Há ainda momentos, como este, em que me sinto uma menina a brincar aos crescidos. 15 Junho

Perco facilmente o controlo das coisas e ela é a única capaz de me trazer de volta. 16 Junho

Quero sentir. Pouco importa se dura um dia, uma noite ou um mês, nem sequer se ela está apaixonada. Quero envolver-me para sentir. Apenas. 17 Junho

Hoje sinto demais. 22 Junho

A paixão esgota-me. Não sei já como, em tempos, pude viver neste estado permanentemente. 23 Junho

Leio nas entrelinhas aquilo que na verdade não está lá. 23 Junho

Já não sabia quão livre se podia ser. Durante horas ouvi música alta, misturei-me por entre corpos, senti as luzes, o álcool. Senti que o tempo tinha passado. Que a vida me tinha fugido. 24 Junho

Encontrei “R”. Ela olha-me. Ela diz-me com o olhar que nunca ninguém a amou como eu. Não se volta a amar pela primeira vez. Foi isso que lhe dei. Um primeiro amor.
Ela olha-me. E fala. E eu deixo de a ouvir. Sinto um impulso incontrolável de a abraçar. Ficámos assim muito tempo. 24 Junho

Não tenho jeito para romantismos. Nem paciência. Deixei-os em “R”. Sei-o. 30 Junho

Não procuro ninguém e espero que ninguém me procure. 12 Julho

Há momentos em que sinto que não a vou deixar nunca. Ainda que não exista desejo. Ainda que me deite com outras mulheres. 14 Julho

Não consigo ficar nem partir. 12 Agosto

Quando acaba o desejo acaba o amor? 12 Agosto

Não sinto falta de ninguém. Sinto falta da sensualidade. 26 Agosto

Relembrei-me de como me apaixonava facilmente. De como a cumplicidade de um olhar me prende numa redoma da qual não me quero libertar. 31 Agosto

É indescritível a suavidade de uma mulher. 31 Agosto

Volta a poesia. Seis poemas em dois dias. 31 Agosto

Crescemos dentro deste amor e esta despedida leva consigo uma parte da nossa identidade. 10 Setembro

Não consigo fazer outro caminho que não este e ainda assim sinto uma tristeza inexplicável. 14 Setembro

Sinto-me cansada e sem forças. Os movimentos do braço ao escrever são dolorosos. 25 Setembro

“S” continua em mim enquanto me sinto atraída por “D” e durmo com “F”. É preciso clareza. Dissecar os sentimentos. 30 Setembro

Envolvo-me para que se envolvam. 1 Outubro

De repente sinto a minha vida de volta, viro-me para mim e é uma descoberta que me consome. 7 Outubro

Ainda à deriva. Se dou mais do que um passo de cada vez a respiração torna-se pesada. 11 Outubro

Não sei se estou mais ou menos feliz. Deslizo à superfície das coisas, sem que nada me toque realmente. 12 Outubro

Voltam os pesadelos. Noite após noite. 18 Outubro

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