Sentada numa cadeira vermelha, aveludada, com apoio para a cabeça. Um homem fala em francês, tomo umas notas, aborreço-me facilmente porque parece que estudei, com ele, tudo o que ele diria naquela apresentação do livro.
Baixo a cabeça. Vejo as minhas mãos fechadas, abraçando-se. Em baixo um caderno de notas, uma caneta que separa duas folhas. Na mente soa
“por muito que eu goste dos teus adereços, dos cintos de ligas, das tuas meias, não é disso que preciso, não é por isso que gosto de ti, não é isso que me seduz. é agradável ver, tens especialmente bom gosto na roupa, em tudo o que usas. mas não é isso que me levou até ti. foram os teus olhos, o teu nariz, a tua testa, a tua boca, o teu rosto, aquilo que está dentro de ti”
As mãos tremeram e por instantes o choro formou-se na garganta. O intelectual francês falava. A sabedoria, o conhecimento, o crescimento intelectual, tudo isso em redor não eram mais do que pétalas de amendoeira. Por mais belas que sejam, por mais serenamente que as veja cair no meu colo, não são aquilo que me deu vida. Como chorei por dentro.
Como chorei no meu interior, vendo-me como um amplo espaço de neve, um espaço a perder de vista. Amo a perder de vista.
Jantemos, tal como marcado, por favor. Este amor violenta-me. Esta separação violenta-me. Mata-me e dá-me vida. Quero rasgar o corpo. Quero uma segunda vida, um segundo tempo. Quero que tudo possa ser diferente. É certo, somente o sei. Talvez seja esta a sensação de acreditar em Deus. Talvez seja comparável à sensação de ter um filho.
E caio da janela 20 vezes. Virá 20 vezes apanhar-me?
Tanto que devia chorar hoje: mas a cabeça já pesa. O milagre do avanço da química fará com que entre o hoje e o amanhã existam apenas um par de sonhos.
Gosto muito de ti. Mantém a marcação, por favor. Muitos beijos.
http://cleode5a7.blogspot.com/2011/03/um-unico-homem-uma-unica-mulher-um.html
Sentada numa cadeira vermelha, aveludada, com apoio para a cabeça. Um homem fala em francês, tomo umas notas, aborreço-me facilmente porque parece que estudei, com ele, tudo o que ele diria naquela apresentação do livro.
Baixo a cabeça. Vejo as minhas mãos fechadas, abraçando-se. Em baixo um caderno de notas, uma caneta que separa duas folhas. Na mente soa
“por muito que eu goste dos teus adereços, dos cintos de ligas, das tuas meias, não é disso que preciso, não é por isso que gosto de ti, não é isso que me seduz. é agradável ver, tens especialmente bom gosto na roupa, em tudo o que usas. mas não é isso que me levou até ti. foram os teus olhos, o teu nariz, a tua testa, a tua boca, o teu rosto, aquilo que está dentro de ti”
As mãos tremeram e por instantes o choro formou-se na garganta. O intelectual francês falava. A sabedoria, o conhecimento, o crescimento intelectual, tudo isso em redor não eram mais do que pétalas de amendoeira. Por mais belas que sejam, por mais serenamente que as veja cair no meu colo, não são aquilo que me deu vida. Como chorei por dentro.
Como chorei no meu interior, vendo-me como um amplo espaço de neve, um espaço a perder de vista. Amo a perder de vista.
Jantemos, tal como marcado, por favor. Este amor violenta-me. Esta separação violenta-me. Mata-me e dá-me vida. Quero rasgar o corpo. Quero uma segunda vida, um segundo tempo. Quero que tudo possa ser diferente. É certo, somente o sei. Talvez seja esta a sensação de acreditar em Deus. Talvez seja comparável à sensação de ter um filho.
E caio da janela 20 vezes. Virá 20 vezes apanhar-me?
Tanto que devia chorar hoje: mas a cabeça já pesa. O milagre do avanço da química fará com que entre o hoje e o amanhã existam apenas um par de sonhos.
Gosto muito de ti. Mantém a marcação, por favor. Muitos beijos.