fragmentos do diário XIII – breves de 2004

Afinal, foste tu quem disse as palavras. Eu esperei sempre por amanhã, por depois de amanhã. 8 Abril

Cada dia carrega em si centenas de outros dias que já não posso apagar. 9 Julho

É verdade que estou triste. E triste por perceber que se pode viver com esta tristeza. 10 Julho

A nova casa está quase pronta. As estantes de livros deste quarto vão dando origem a um monte de caixa colocadas a um canto. É estranho que uma vida caiba em caixas. 16 Outubro

É estranho ver este quarto sem livros. E no entanto, eles existem ainda. O desalinho dos livros está tão decorado que qualquer estante vazia é ainda uma estante cheia. 27 Outubro

Poucas vezes quis tanto ter fé. Não carregar em mim este “Estar só e sem desculpas”. A escrita toma o papel de Deus. Escrevo para manter a lucidez. Deverá ter sido já esta a razão quando, aos 11 anos comecei o primeiro diário. 18 Novembro

Chorei ao tirar as fotografias da parede. 3 de Dezembro

Há momentos em que tudo o que é humano me é estranho. E é nessa estranheza que me descubro e dou um significado à vida. 3 Dezembro

Este diário foi o mais longo de sempre. Estão aqui quatro anos e meio.
Que a vida me devolva a urgência da escrita. 4 Dezembro

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

*

You may use these HTML tags and attributes: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <strike> <strong>