Afinal, foste tu quem disse as palavras. Eu esperei sempre por amanhã, por depois de amanhã. 8 Abril
Cada dia carrega em si centenas de outros dias que já não posso apagar. 9 Julho
É verdade que estou triste. E triste por perceber que se pode viver com esta tristeza. 10 Julho
A nova casa está quase pronta. As estantes de livros deste quarto vão dando origem a um monte de caixa colocadas a um canto. É estranho que uma vida caiba em caixas. 16 Outubro
É estranho ver este quarto sem livros. E no entanto, eles existem ainda. O desalinho dos livros está tão decorado que qualquer estante vazia é ainda uma estante cheia. 27 Outubro
Poucas vezes quis tanto ter fé. Não carregar em mim este “Estar só e sem desculpas”. A escrita toma o papel de Deus. Escrevo para manter a lucidez. Deverá ter sido já esta a razão quando, aos 11 anos comecei o primeiro diário. 18 Novembro
Chorei ao tirar as fotografias da parede. 3 de Dezembro
Há momentos em que tudo o que é humano me é estranho. E é nessa estranheza que me descubro e dou um significado à vida. 3 Dezembro
Este diário foi o mais longo de sempre. Estão aqui quatro anos e meio.
Que a vida me devolva a urgência da escrita. 4 Dezembro