2010. Esta contagem sufoca-me. “Que fiz eu da vida?” 27 Janeiro
Ela surge. Precipito-me para fora de mim. Esta vertigem nos olhos dela. E a sensação, quase a certeza, que deveria fugir. Que a perda é sempre inevitável, que a dor virá, que faltar-me-ão as forças. 28 Abril
A capacidade de acreditar é em mim uma memória longínqua.
Desabituo-me facilmente da felicidade. E quando ela chega, demoro a reaprender os movimentos do corpo. 28 Abril
Lisboa anoitece dentro de mim. Percorro as ruas, o rio, até que a lentidão dos passos acalme o corpo.
A tristeza foi sempre a última morada. 15 Junho
Se ela não está, falta-me o ar. 29 Junho
Não acreditava já num amor assim. 30 Junho
Às 9:05 da manhã faltou o telefonema dela. Há 21 anos que falta o telefonema dela. Há 21 anos que deixou de fazer sentido festejar um dia em que a saudade me corrói. 3 Julho
Podia o amor bastar. 16 Agosto
Descubro que já não sou adolescente quando lhe digo que não tenho de me perder para amar. Que duas pessoas podem amar-se continuando a existir. 17 Agosto
Existe este amor. São cinco da manhã e existe este amor.
Dentro e fora de mim ele existe e tem um punhado de facas para me ferir. 19 Setembro
Tenho algumas esperanças na vida – que o mundo irá mudar, que grandes revoluções serão feitas. Não tenho esperanças em mim. 20 Setembro
Este amor é uma maldição. 22 Novembro
Acreditei tanto quanto é humanamente possível acreditar. E repetidamente ela traiu este amor. 22 Novembro
Não percebo este amor que abandona. 10 Dezembro
Ela volta e diz que me ama e eu fico porque não sei não ficar. Este amor, esta dor, prende-me à vida. Descubro que ainda sinto, que ainda choro. 10 Dezembro
Esvaziei-me neste amor. Corri quilómetros para longe de mim. Falhei-me. 11 Dezembro
As saudades colam-se aos ossos. Cada passo que dou nesta casa é um passo sem ela. 19 Dezembro
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